Dúvida freqüente entre os estudantes
do final do Ensino Fundamental e início do Ensino Médio, o uso das formas MIM
ou EU confunde a cuca mesmo. Mas não é nada complicado entender quando se
usa um e quando usa o outro. Antes das explicações, não posso deixar de
(re)lembrar aos leitores que atualmente
no Brasil duas variedades da língua
devem ser levadas em conta : a variedade padrão e a variedade popular.
A
variedade padrão obedece aos preceitos que constam na Gramática Normativa da
Língua Portuguesa. Também chamado de Português Correto, essa maneira de
escrever / falar é muito cobrado nas provas, concursos, usado em textos literários e oficiais, mas nem
sempre traduzem como realmente o brasileiro usa a sua língua para se
comunicar.
A
variedade popular é aquela que registra a língua como ela é usada no dia-a-dia, principalmente na fala cotidiana, nas
diversas camadas da sociedade, de maneira que garanta a comunicação entre os
interlocutores de uma conversa .
O
importante é o aluno / leitor perceber-se como pertencente a uma comunidade
falante de duas línguas, na prática. Àqueles que já incorporaram a variedade
padrão da língua, parabéns ! Que tenham consciência de que muitos ainda estão
em fase de aprendizagem e transição no uso de uma variedade para outra e que
não podem sofrer preconceito lingüístico caso “escorreguem” no uso da língua.
Afinal, o que importa é que a mensagem foi enviada e compreendida. Então vamos
lá.
PRINCIPAIS EMPREGOS DOS PRONOMES PESSOAIS
Algumas das formas dos pronomes
pessoais têm usos distintos na variedade
padrão e na variedade popular. Vamos conhecer as principais diferenças entre esses usos das formas EU e
MIM.
Consulte uma gramática e procure
o quadro geral dos pronomes . Você vai notar que :
·
EU só
aparece na coluna do CASO RETO ( ou seja, só exercem a função de sujeito ).
·
MIM
só aparece na coluna do CASO OBLÍQUO ( ou seja, funcionam como complemento
verbal,
acompanhado de preposição e não pode exercer função de sujeito).
Esses
empregos, no entanto, só têm ocorrência regular na variedade padrão da língua;
na variedade popular às vezes há diferenças. Observe isso nos exemplos 1 a 4.
1. O advogado trouxe o documento para mim. ( padrão / popular)
sujeito do verbo trazer complemento do verbo trazer
2. O advogado trouxe o documento para eu assinar. ( padrão )
sujeito do
verbo trazer sujeito do
verbo assinar
1. 2. O advogado trouxe o documento para mim assinar. ( popular )
sujeito do
verbo trazer sujeito do
verbo assinar
Observe que, frase b, a forma mim
desempenha o papel de sujeito de assinar.
Esse emprego não é válido na variedade padrão.
1. 3. Para mim,
assinar o documento foi difícil. ( padrão / popular )
Nesse caso, o pronome mim não é sujeito de assinar. Na verdade, a frase está
invertida, sua ordem natural seria : Assinar
o documento não foi difícil para mim.
DE ONDE VEM TODA ESSA CONFUSÃO ?
Segundo o
linguísta Sírio Possenti (1997) , existem muitas construções em que o mim
aparece depois de preposição ( PARA, EM, DE, ETC. ). Exemplos : Creia em
mim, Pegue isso para mim. Isso induz os falantes a uma generalização, e
eles acabam usando mim depois da preposição para, mesmo quando há um verbo, que
exigiria a forma eu. Assim, por exemplo : Ele pediu para mim ficar lá.
Fonte de pesquisa : Emília Amaral [ et al. ]. NOVAS PALAVRAS, nova edição. São Paulo: FTD, 2010. vol 2. p. 253,254.
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