sexta-feira, 11 de julho de 2014




O Analfabeto Político
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
Bertolt Brecht
O analfabetismo político em tempos de Copa do Mundo

            Interessante escrever esta análise pós-derrota no futebol, dentro de casa, da Seleção Brasileira contra a seleção da Alemanha nas semifinais da Copa do Mundo.  As palavras de Brecht traduzem fielmente o comportamento alienado do povo brasileiro, envolvido pelo clima de sonho que antecedeu o início do evento esportivo mais esperado desde a década de 1950. Em pleno ano de eleições federais e estaduais, bem sabemos o quanto houve de influência este mundial na mente do brasileiro que não é um ser político por natureza.
            O clima até o jogo do Brasil contra a Colômbia, era de total amor à pátria, patriotismo este revelado nas cores da bandeira que tomaram lugar nas ruas, nos corpos, nos carros, nas janelas e principalmente no Hino estendido de cada início de partida, onde o brasileiro, não só nos estádios, mas também em suas casas e nos bares, cantavam com a mão direita no peito, em sinal de paixão por este país. Findo o jogo contra a Alemanha, findo o sonho e finda a ilusão do hexacampeonato. O brasileiro vai às ruas e a violência impera, em nome do descontentamento potencializado pela vergonha de um resultado nunca antes registrado em uma Copa do Mundo de 7x1 para a Alemanha.
            Bertold Brecht caracteriza o analfabeto político como aquele que não participa dos acontecimentos políticos de seu país e ainda sente-se orgulhoso por isso. É também aquele que ignora o fato de que tanto a sua vida como a de qualquer cidadão depende de decisões políticas que ele sequer suspeita que existam.  O povo brasileiro é  analfabeto político, pois exime-se do dever de conhecer e participar da vida política a começar pelo seu município como cidadão atuante,  para orgulhar-se de ser beneficiário de programas sociais que são ofertados como direitos do cidadão e  na verdade apenas são vias seguras de garantia de votos; cabrestos políticos em pele de assistencialismo.
 Na manhã pós-derrota, o noticiário anuncia que no Estado de São Paulo e em mais quatro estados brasileiros, a inflação foi menor em julho pela baixa no preço dos alimentos e que o governo de São Paulo desiste de multar quem aumentar o consumo de água nestes tempos de estiagem.  Essas medidas, com certeza, foram divulgadas e  tomadas para que a imagem do governo brasileiro, tanto em nível federal quanto em nível estadual, influenciem nas urnas em outubro pois vivemos em um país onde os que fazem as leis que determinam sua vida real são desprezados e odiados e aqueles que oferecem prazeres momentâneos são os heróis. Quando estes últimos falham em sua missão, o descrédito cai sobre todo o resto do país: economia, saúde, educação e segurança. Como não temos a garantia de que o voto vai mudar a situação vigente, o brasileiro parte para a ignorância, como se diz no popular.
E o termômetro da ignorância política está na tentativa de saques a lojas de eletroeletrônicos, ataques a ônibus em circulação e incêndio em um pátio de coletivos desativados que ocorreram na cidade de São Paulo apenas 20 minutos após a derrota do Brasil na semifinal da Copa do Mundo.  Roberto da Matta, sociólogo e articulista do jornal O Estado de São Paulo, quando indagado se o vexame da seleção do Brasil na Copa afeta a eleição presidencial, esclarece que “(...) tudo está relacionado com tudo - tudo o que ocorre na vida social, mental, na paisagem simbólica, está interligado”. Afirma que deveremos tirar o futebol da ilha da fantasia e questiona se a sociedade vai cobrar dos políticos a educação e a saúde de que temos direito, com a mesma veemência com que cobramos o futebol da Seleção Brasileira.
Apenas a Educação e o esclarecimento das classes menos favorecidas será capaz de alfabetizar politicamente a massa para que esta não seja presa fácil na mão do político vigarista e dos capitalistas exploradores que aproveitaram o máximo para lucrar durante os jogos. Agora, vamos ver quem paga esta conta, que, com certeza, não será paga em Euro.

Fonte de Pesquisa

http://pensador.uol.com.br/frase/MjMzMDA5/